sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

DOMINADORES DE CONSCIÊNCIA



"Tendo Jesus chegado ao templo, estando já ensinando, acercaram-se dele os principais sacerdotes e anciãos do povo, perguntando: com que autoridade fazes estas coisas? E quem te deu essa autoridade? E Jesus lhes respondeu: Eu também vos farei uma pergunta; se me responderdes, também eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. De onde era o batismo de João, do céu ou dos homens? E discorriam entre si: Se dissermos: do céu, ele nos dirá: Então, por que não acreditastes nele? E, se dissermos: dos homens, é para temer o povo, porque todos consideram João como profeta. Então, responderam a Jesus: Não sabemos. E ele, por sua vez: Nem eu vos digo com que autoridade faço estas cousas" (Mateus 21 :23-27). 

No episódio relatado no texto acima, Jesus teve a oportunidade de argumentar em defesa da sua autoridade, bem como de ameaçar com punições no além aqueles que não se submetiam a ele. No entanto, Jesus não respondeu a pergunta dos inquiridores, antes subordinou sua explicação à resposta deles para um dilema que não estavam disposto a enfrentar.

Jesus não era autoritário, mas tinha legítima autoridade. Em razão disso, o Filho de Deus não precisava se impor com ameaça e argumentações falaciosas. Ele não procurava convencer os outros de sua posição, pois sua distinção era notória, de acordo com o versículo abaixo:

"Maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas" (Marcos 1:22).

Os soldados que foram prender Jesus em uma certa ocasião é que foram prendidos por sua pregação, e tiveram que se justificar perante seus superiores, dizendo: "Nunca ouvimos alguém falar como aquele homem falava".

Jesus não era um dominador de consciências. A sua doutrina exposta por seus discípulos foi transmitida primeiramente por ele através de seus atos. Quando ele .perdoou o paralítico de seu pecados em virtude de sua fé, nos falou da justificação pela fé; quando dizia para ir em paz aquele a quem perdoava, mostrava que seu perdão era pleno e dava segurança já nesta vida; com uma criança nas suas pernas, ele ensinou a humildade que possibilita o arrependimento; no seu grito final (ESTÁ CONSUMADO) deixou evidente o significado expiatório de sua morte. O mestre afirmou: " Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas".

O Senhor não estava preocupado em convencer a todo custo os seus opositores da veracidade de sua doutrina, pois ele sabia que os sinceros discerniriam a sua procedência: " se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se falo por mim mesmo" (João 7:17).

A mensagem cristã, que confunde-se com a anunciação do próprio Jesus, satisfaz o clamor humano por um caminho de retorno a Deus, bem como tem a coerência interna que atende as exigências da razão humana, assim como responde as necessidades existenciais de cada um de nós. Jesus se proclamou "o caminho, a verdade e a vida". Ora, se a mensagem evangélica se adequa às carências da natureza humana, então não precisa ser imposta.

É verdade que o pecado nublou a capacidade humana de discernimento, mas o Espírito Santo atua sobre aqueles que ouvem a palavra de Deus com um coração aberto, de tal modo que as escamas caem de seus olhos, proporcionando-lhe a visão da beleza do evangelho.

Nos primórdios do cristianismo os apóstolos, seguros da integridade do que pregavam, não anunciavam de forma impositiva a sã mensagem mas, com muito zelo de evangelizar, anunciavam a Cristo, confiando na direção do Espírito e esperando pelo toque divino nos corações. Não interessava aqueles santos homens fazer adeptos, mas sim, convertidos. Em face disso, não se colocavam como mediadores entre Deus e os homens, mas apresentavam Cristo ao mundo, a fim de que cada um, de forma voluntária e consciente, tivesse um encontro pessoal e direto com o Filho de Deus. Vejamos alguns versículos que evidenciarão o que temos dito:

'Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vossa alegria; porquanto, pela fé, já estais firmados "(II Cor. 1:24).

"Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer...nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho." (II Pedro 5:2,3).

"...Foi Paulo crucificado em favor de vós ou fostes porventura, batizados em nome de Paulo?" (I Cor. 1:13).

Os pastores da igreja primitiva se viam como servos da igreja, sendo eleitos pelos irmãos em assembleia congregacional (Atos 14:23). Existiam cultos participativos em que todos podiam falar (I Cor. 14:26).

Na antiga comunidade cristã só se reconhecia a autoridade da Escritura, e não por apego supersticioso a um livro. Os cristão entendiam que Deus não podia ser alcançado pela razão humana, pois se isso fosse possível, Ele seria menor ou igual a nós. Em razão disso, Deus tinha que revelar-se para que o homem pudesse conhecê-lo, e isso em dimensões humanas, o que ocorreu através de Jesus. A Bíblia era o livro que falava de Jesus, logo tinha que ser verdadeiro e fruto de inspiração para que a revelação de Deus em Cristo não fosse vã, já que esta só foi conhecida nas gerações posteriores à ascensão de Cristo através do texto sagrado. Os irmãos eram cristocêntricos e não biblicistas, ou seja, amavam a Bíblia na medida em que por ela conheciam a Jesus.

Não quero aqui afrouxar os padrões elevados e santos do evangelho, nem muito menos questionar os seus relatos sobrenaturais que são irrefutáveis, mas gostaria de contender com os métodos legalistas de alguns pregadores que pretendem controlar os outros e dominar a consciência alheia, como se a obediência por "pressão" tivesse algum valor diante de Deus, e como se o evangelho fosse tão fraco que precisasse se valer dessa coisas.

É lamentável que lideres religiosos determinem aos seus discípulos os que estes podem ler, fixando um verdadeiro INDEX, bem como estabeleçam as igrejas que eles podem visitar, esquecendo-se que o apóstolo Paulo reconheceu a capacidade dos verdadeiros cristãos julgarem por si mesmo as coisa espirituais, dizendo: " Examinai tudo, retende o que é bom " (I Tess. 5:21).

Concluo este artigo, citando as palavras de Martinho Lutero: 'Que miséria maior pode haver na igreja do que ser aglutinada não pelo amor, mas pela força? Que os pontífices imperem não pela bondade, mas pelo poder? Que os súditos sirvam não por amor, mas coagidos por ódio e temor?

Texto extraído do Jornal Trombeta de Sião - Ano I - No. 5 - Nov. / 1997
Rua Pergentino Ferreira, 377
CEP 60.040-470 Fortaleza - CE
Editor Responsável - Pr. Glauco Barreira Magalhães Filho

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