Oito e quinze da
manhã de março.
Jô Betts destrancou
a porta de sua casa de peixe.
A tabuleta em cima
da porta dizia:
“BETTS E FILHO”
PESCADOS DE QUALIDADE – ATACADO E VAREJO
SERVINDO A CIDADE POR 40 ANOS
Jô abriu a porta,
que rangeu um pouco, entrou e metodicamente, pendurou seu casaco no cabide ao
fundo da sala. O lugar recendia a peixe e salmoura. Jô tomou respiração funda,
aspirando o ar. Tinha se habituado em gostar do cheiro. Fazia-o sentir-se em
casa. Ele herdara aquela casa de peixes de seu pai já falecido.
Betts e Filho
andaram beirando a falência. Eles eram os únicos vendedores de peixe da cidade
que conseguiram superar a crise financeira.
Agora os negócios
iam bem.
Mais tarde, naquela
manhã, quando o movimento estava intenso, Jô repentinamente levantou os olhos e
viu um estranho à porta.
Era de aparência
comum e trajava um terno azul. Mas não sei porque, havia alguma coisa diferente
naquele homem. Especialmente nos seus olhos.
O vendedor de peixes
não era poeta, mas havia uma luminosidade nos olhos daquele personagem
estranho.
Jô por um instante
quase se esqueceu do que fazia. E, então, caindo em si, perguntou:
“Posso servi-lo em
alguma coisa senhor?”
O estranho sorriu e
chamou:
“Jô, venha comigo.
Tenho estado a sua procura. Tenho um serviço muito importante pra você. Ninguém
mais pode fazê-lo.”
Jô piscou e engoliu
em seco.
Certamente ele não
ouvira bem.
Nunca vira esse
homem.
Como podia saber o
seu nome?
Seria louco?
Jô tinha estado
ocupado em abrir um barril de bacalhau. Deliberadamente largou a ferramenta que
tinha na mão e, quase hipnotizado, sem proferir nenhuma palavra de explicação
aos seus empregados, saiu pela porta e seguiu pela rua ao lado do estranho.
Jô Betts nunca fora
um homem religioso...
Nunca se incomodara
muito com igrejas...
Mas aqui está a
história de como ele se tornou um discípulo do Senhor Jesus Cristo, e nos anos que
se seguiram Jô se tornou um influente defensor da fé cristã e do reino de Deus
na capital daquele país.
Sim queridos irmãos
meus, esse caso pode lhes parecer muito curioso. Há qualquer coisa nesta
história que não soa como verdade.
Que homem, em seu
perfeito juízo, iria embora com um estranho?
Mas foi isso
exatamente o que aconteceu. Eu simplesmente usei um pouco da imaginação,
traduzindo em termos modernos a história do chamado de Pedro e André como é
narrada no capítulo 4 de São Mateus:
E Jesus, andando ao longo do mar da Galiléia, viu dois
irmãos-Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, os quais lançavam a rede ao
mar, porque eram pescadores. Disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei
pescadores de homens. Eles, pois, deixando imediatamente as redes, o seguiram.
(Mateus 4:18-20)
Os irmãos e amigos
já pensaram em quão louca deve ter parecido essa decisão de Pedro e André
perante seus contemporâneos?
As vezes eu tenho
imaginado... se eu estivesse lá, se eu estivesse no lugar de Pedro, teria eu
tido a coragem de fazer como eles fizeram?
Teria você essa
coragem?
Era difícil ignorar
o carpinteiro de Nazaré. Havia algo nele que atraía os indivíduos, que impelia
à obediência. O Novo Testamento fala dele como quem “fala com autoridade” e a
multidão o seguia... (São Mateus 7:29)
Ou o amavam
devotamente... ou o odiavam amargamente.
Era difícil a
neutralidade. Ter um encontro com o Mestre Nazareno significava mudança de
vida, pensamentos, gênio. E muito mais.
Eu posso imaginar o
Novo Testamento sem alguns dos seus personagens... mas você poderia imaginar o
Novo Testamento sem a figura de Pedro? Dificilmente.
Se você analisar
exclusivamente as discussões de Pedro com Jesus cristo... o relacionamento de
Pedro com outros personagens do Novo testamento, você teria a historia da
salvação talvez claramente revelada.
Pedro é dinâmico,
impulsivo e extrovertido. Nas páginas do novo testamento acham-se registrados
graves erros e grandes virtudes na vida do discípulo. Haja vista, o
acontecimento do dia de Pentecostes, quando ainda com dinamismo, mas
mansamente, ele pregou o evangelho e 3.000 almas foram batizadas. (Atos 2:41). Agora
ele era homem que tinha comunicação com o Deus vivo. Porém, nem sempre foi
assim... Por ocasião do Pentecostes, algo tinha acontecido com Pedro.
Pela análise que
pude fazer do caráter de Pedro, eu conclui que a característica pessoal mais
saliente neste discípulo era o seu sentimento de “eu posso cuidar de mim
mesmo”.
Um tipo
independente, dotado de um avançado grau de auto suficiência... segurança
própria. Era um homem já experimentado na vida e sempre com as respostas na ponta
da língua.
Jesus disse: “Tu me
negarás, Pedro”, mas Pedro respondeu: “Ainda que eu tenha que morrer contigo,
não te enganarei.” Mesmo que os outros te abandonem, mesmo que todos fujam,
Senhor comigo podes contar... eu permanecerei firme... Os outros poder ser intimidados,
mas eu não o serei tão facilmente. Eu estarei lá para socorrer-te. Eu estarei
lá para te ajudar. (Mateus 26:33-35).
Ninguém pode dizer
que Pedro não estava sendo sincero. Eu creio plenamente na sinceridade dele.
Ele estava completamente motivado pela idéia de estar ao lado do seu Mestre
protegendo-o.
Ninguém,
absolutamente ninguém, pode colocar em dúvida as boas intenções do discípulo...
Ele falava com franqueza... O problema de Pedro era o seu sentimento de auto
suficiência... Ele se apoiava em si mesmo...
O sentimento do
discípulo era: “Eu não somente posso cuidar de mim mesmo... como também não
consigo imaginar coisa alguma que me faça fugir.”
Pedro não se
conhecia... Ele se assemelha a muitos de nós hoje... Falamos mas não compreendemos
o significado de nossas palavras... Nossas palavras estão longe da realidade...
Elas não têm profundidade.
Pedro até então
nunca tinha olhado para o seu o próprio coração. Ele realmente não se conhecia.
Ele se vangloriou, mas mesmo assim estava temeroso. Ele era o que fazia mais
barulho, o que mais falava. Com explicar tal inconsistência? Geralmente as
pessoas mais intimidadas são as que mais falam...
Certa vez um
psiquiatra do Hospital Mental de Santa Elizabete em Washington disse:
“Nós temos aqui um
paciente que fala o tempo todo. Ele fala ruidosamente. Ele na realidade é
medroso. Eu penso que não temos aqui nesse hospital alguém mais assustado.”
Assim era Pedro...
jactancioso... falante... ele estava tentando tranqüilizar-se. Falando daquela
maneira, Pedro tentava se convencer de que ele permaneceria firme. Ele não
teria agido desta maneira tão jactanciosa se realmente cresse assim... Mas a
verdade era que ele estava apavorado e sua jactância foi como que uma capa para
ocultar-lhe o medo.
Quando a mulher
disse: “É você um Galileu?” (São Lucas 22:56). Ela não quis dizer com isso que
era sua inimiga. Porem Pedro se sentiu atemorizado que explodiu com pragas e
maldições. Ele estava amedrontado. (São Mateus 26:73,74).
Aqui estava um
dínamo carregado de energia... energia humana que precisava ser substituída
pela energia do Espírito Santo.
Quando deus se
manifestou a este discípulo, um milagre entrou em operação. Pedro era um homem
bondoso, sensível, ele desejava muito fazer as coisas corretamente. Ele era
tremendamente sentimental e possuía uma grande habilidade a que nós chamamos de
“reação emocional”. O problema era que tudo isso precisava ser colocado sob o
controle de Deus e canalizado para uma atividade construtiva. Esse era o plano
do Senhor Jesus Cristo para Pedro. Mas, primeiramente, o convencimento, a
suficiência própria de Pedro tinha de ser destruída e trocada pela fé em Deus.
Lendo São Lucas
22:62,62, descobrimos que quando Pedro aprendeu a chorar sobre suas falhas, uma
mudança começou a ter lugar.
Eu penso que se mais
pessoas aprendessem Pedro a chorar... a derramar lagrimas sobre os seus erros e
pecados, teríamos melhores cristãos dentro das igrejas.
Eu tenho visto
pessoas que se envergonham de chorar ou que alguém as veja chorando. Mas eu diria
que é necessário chorar as vezes... há ocasiões em que as lagrimas falam mais
do que as palavras...
Há muitas coisas que
nós precisamos enfrentar e encarar exatamente como elas são, pode ser que as
lagrimas brotem em nossos olhos, mas finalmente aprenderíamos a dizer:
“Senhor eu me
imaginava tão forte... Eu me imaginava tão bom... mas finalmente descobri que
não sou. Senhor eu reconheço e admito que necessito do teu auxilio.”
Muitos há que têm
perdido a habilidade de jogar com os sentimentos. Há cristãos que dizem:
“Eu não quero
nenhuma emoção em minha religião.”
Mas essas mesmas
pessoas estariam dispostas a gritar e se emocionar em favor de uma causa
injusta ou numa torcida.
Os nossos
sentimentos precisam ser mexidos em nosso relacionamento com Deus. Religião não
é emoção... sentimentalismo, mas as emoções fazem parte de nossa religião.
Muitas de nossas confissões saem dos nossos lábios misturadas com as lagrimas
do arrependimento.
Quando Pedro
reconheceu o seu pecado, chorou amargamente... “os grandes homens também
choram...” disse certa vez Napoleão Bonaparte.
“Vergonha para um
jovem é não saber chorar...”
“Vergonha para um
velho é não saber sorrir...”
Jesus disse para
Pedro mais tarde (São Lucas 22:32): “mas eu roguei por ti, para que a tua fé
não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos.”
Como Pedro poderia
nos fortalecer hoje? Eu penso que a experiência de Pedro nos fortalece
fazendo-nos encarar o fato de que somos pecadores, falhos e totalmente
dependentes de Deus.
Pedro nos fortalece
ensinando-nos a chorar sobre os nossos pecados e a dizer: Senhor, eu não posso
cuidar de mim mesmo.
Uma boa qualidade de
Pedro encontramos em São Mateus 14:28,29. Pedro era um aventureiro de fé... ele
aprendeu a explorar o poder de Deus...
Lemos na Bíblia que
Pedro começou a afundar...
Alguém pode dizer: “Foi
por misericórdia de Deus que ele não afundou.” Sim, eu concordo. Mas eu quero
destacar aqui a poderosa fé do discípulo Pedro em sair de dentro do bote...
Eu diria que a
maioria não teria coragem e nem nervos suficientemente fortes para sair do bote
em meio às trevas e se lançar às águas. Foi um pulo no escuro... um pulo de
fé... uma aventura de fé... Ele andou sobre as águas enquanto os outros ficaram
agarrados no bote... Eu penso que Pedro começou a afundar quando lhe ocorreu o
pensamento de que ele podia cuidar de si mesmo... quando ele desviou os olhos
de Cristo.
Mais uma vez aqui o
discípulo Pedro nos fortalece ensinando-nos a empreender aventuras de fé... e a
não desviarmos os olhos de Cristo. Nossa vitória estar em sermos dependentes de
Cristo. Dependência total... irrestrita. Devemos empreender grandes coisas para
Deus... não para nós... mas para Deus... Deus se agrada disso.
Há muitos anos o
Bispo Wright de Dayton, Ohio, pregou um sermão sobre a audacidade de alguns que
pensavam que os homens podiam voar...
“Eles nada sabem”,
declarou o Bispo. “Somente anjos podem voar! Assim está decretado por Deus, e
nunca acontecerá tal coisa como homens voando pelo ar.”
O Bispo finalmente
morreu. Os dois filhos do Bispo o enterraram... mas estes dois filhos do Bispo
Wrigth nunca creram em uma só palavra daquele sermão. Os dois jovens ouviram o
pai pregando de que pessoa alguma conseguiria voar. Eles então se dirigiram
para Kitty Hawk e começaram a voar. Eles eram ousados, aventureiros e
conseguiram. Não coloque limites a sua frente... Pense alto... Empreenda
grandes coisas para Deus.
Hoje Pedro nos
fortalece dizendo: Saia do bote da rotina... seja um explorador do poder de
Deus... empreenda grandes coisas para Deus...
Nos temos que
aprender com Pedro a exercitar tal qualidade de fé que nos impulsione e nos
lance para fora do bote... fora do comum... fora da rotina...
São Francisco de
Assis declarou: “No inicio faça o imprescindível... depois o possível... e de
repente estará fazendo o impossível.”
“Quebre a rotina...
não faça de sua vida uma mesma nota batendo em surdina.”
Deixe os caminhos
trilhados e velhos e siga o caminho que ninguém pisou.
“Lance a andar sua
planta por novos caminhos e abra novos sulcos onde não haja penetrado a relha
de aço de nenhum arado.”
Quebre a rotina...
que não seja a sua vida um rincão de museu... repleto de antiguidades ou
relíquias do passado...”
“Quebre a rotina e
seja um novo ser... uma nova criatura em Cristo.”
“Sacuda o pó que
deixam os séculos e siga diante de Cristo.”
“Caminhe e caminhe
em uma aventura de fé que nunca termina.”
“Quebre a rotina...
sacuda a vida com um ritmo novo e deixe que sua alma, fugaz, peregrina,
floresça o milagre de um raro renovo.”
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